A crise mundial das megacidades:

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A edição da revista Grandes Reportagens que esmiúça o fenômeno mundial das megacidades, encartada no Estado do último domingo, coincidiu com a divulgação dos primeiros resultados de um novo levantamento sistemático sobre o desenvolvimento urbano nacional. O trabalho jornalístico, que focaliza uma dezena de megalópoles estrangeiras e se aprofunda, no País, no caso-síntese de São Paulo, é um contraponto vívido ao ordenamento de 5.590 municípios brasileiros segundo uma bateria de indicadores socioeconômicos. De um lado, os testemunhos dos enviados especiais do jornal a 7 dos 25 conglomerados urbanos no exterior com mais de 10 milhões de habitantes (Tóquio, Nova York, Cidade do México, Mumbai, Xangai, Moscou e Lagos, em sentido decrescente) e ainda a Londres, que já não integra essa relação, indicam uma crise de proporções ciclópicas que ameaça levar a colapso os atributos, expectativas e valores historicamente revolucionários, indissociáveis do próprio conceito de metrópole desde o advento da Era Moderna.
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A grande cidade - a forma mais progressista de radicação que o homem foi capaz de conceber na face da Terra, alçando a níveis exponenciais o potencial humano para criar riqueza, conhecimento, tecnologia, cultura e liberdade - simplesmente passou do ponto. Tornou-se, como escreveu na revista o governador José Serra, ao falar especificamente de São Paulo, o "lugar geométrico" dos problemas que assombram governos e cidadãos, "o espaço sobre o qual convergem com intensidade máxima desemprego, poluição, trânsito, violência, déficits de transporte público, de saneamento, saúde e ensino básico de qualidade". Notadamente no Terceiro Mundo, cada vez mais o principal gerador de megalópoles, não há governo, dinheiro e coesão social para ao menos estancar as agruras de seu cotidiano. E a grande cidade típica do Primeiro Mundo - Tóquio, Nova York, Londres e Paris - expulsa legiões de moradores, incapazes de arcar com o custo explosivo das suas habitações e serviços.
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Hoje em dia, num período histórico de expansão urbana desenfreada, especialmente nos países mais pobres, o desenvolvimento humano, novo nome para qualidade de vida, é submetido nas megametrópoles a provações crescentes.
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Estadão - 5, de Agosto de 2008

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